segunda-feira, 10 de março de 2014

SE A GRAMA DO VIZINHO SEMPRE É MAIS VERDE, O PROBLEMA ESTÁ EM VOCÊ



Por Marina Oliveira e Rita Trevisan

Comparar-se com outras pessoas é natural. Sabe aquela história famosa que diz que a grama do vizinho sempre parece mais verde? É um exemplo disso. Ou seja, há uma pessoa, ou mais de uma, que você acredita ter um emprego melhor que o seu ou um casamento mais feliz, filhos mais comportados, amigos mais divertidos.

"Procuramos critérios para julgar o certo e o errado e, para isso, é normal buscar referências. E uma referência concreta é o outro, seja ele próximo ou não", explica Natércia Tiba, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Na atual sociedade tecnológica, as comparações são ainda mais frequentes. As redes sociais são um terreno fértil para as comparações. "As pessoas não têm ideia de como apresentar resultados positivos sobre sua vida pessoal pode atingir outros", afirma o psicólogo João Oliveira, autor do livro "Mente Humana" (Wak Editora).

Comparar tem o lado bom e o ruim. Comparações positivas são aquelas feitas entre situações similares, considerando a individualidade de cada pessoa e o contexto. "Pode ser muito bom quando enxergamos no outro um parâmetro a ser seguido, levando-nos a uma autoanálise", diz Oliveira.

Por outro lado, uma comparação desigual pode abalar a autoestima e levar a falsas ilusões. "Por exemplo, ao comparar a vida de uma celebridade com a própria, as pessoas se esquecem de ponderar a trajetória individual. Qual o percurso daquela pessoa, do que ela abdicou e quais consequências assume por levar aquele estilo de vida", declara Natércia.

A vida do outro sempre vai parecer melhor do que a própria quando você se limita a enxergá-la de um ponto de vista. Ver o outro de apenas um ângulo o impede de identificar os pontos negativos e os defeitos que toda pessoa e situação carregam.
"Quando você deixa de analisar a vida alheia como um todo, cria uma situação fantasiosa e cai na frustração por se achar incapaz de realizar tal feito", diz o psicólogo Alexandre Bez, autor do livro "Inveja - O Inimigo Oculto" (Juruá Editora).

A INVEJA DE CADA UM
Olhar para a vida do outro e querer o que ele tem, a qualquer custo, não por desejo próprio, mas por sentir-se inferiorizado, tem outro nome: inveja. O sentimento é comum entre amigos, familiares e até casais, já que, segundo João Oliveira, a proximidade permite uma comparação maior entre as pessoas.

"Sentir inveja significa não ver as próprias qualidades por estar concentrado mais nos resultados alheios do que em seus atributos pessoais. A inveja surge quando o sujeito acredita na sua falta de condições para alcançar um objetivo", diz o psicólogo.

Para o especialista, o outro pode servir como modelo a ser alcançado, mas desejar viver a vida dele significa desprezar as próprias conquistas e realizações. A inveja é um sentimento humano que se torna prejudicial quando não controlada. Nesse caso, pode crescer e se transformar em raiva direcionada àquele que tem o que se cobiça.

"Na impossibilidade de ver suas próprias aptidões e, com a tristeza instalada, o sujeito se torna agressivo e tenta justificar o sucesso alcançado pelo outro de forma pejorativa. Isso se amplia e começa a destruir a saúde física e mental do invejoso", explica Oliveira.
A inveja também pode ser uma armadilha, de acordo com Natércia. "Mobilizado por aquilo que o outro conquistou, a pessoa se concentra em conquistar o mesmo, mas, ao conseguir, pode não se sentir feliz, porque aquele não era um desejo pessoal real", afirma.

Por isso, sabendo que tanto a simples comparação quanto a inveja são naturais do ser humano, é preciso estabelecer limites em nome da felicidade. Ao perceber que as conquistas do outro não lhe deixam valorizar os próprios passos e características, pare e repense.

"Uma dica é listar os sonhos e objetivos de vida. E antes de desejar algo do outro, reflita se aquilo o aproxima ou afasta das metas traçadas. Sem se esquecer de pensar a longo prazo", diz Natércia. Por fim, enxergue a conquista do outro como um sinal: se ele conseguiu, você também pode. "Todos podemos traçar um plano e nos organizarmos para realizar desejos. Afinal, a conquista do outro não impede a nossa", diz a psicóloga.

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